Lavras e faisqueiras A

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 s notícias de garimpeiros no vale do Tibagi remontam a meados do século XVII. A bandeira de Fernão Dias Paes, o Caçador de Esmeraldas, pela Serra de Apucarana entre 1661 e 1665, apesar de não ter obtido sucesso na busca pelas pedras preciosas contribuiu para a divulgação, entre os paulistas, das possibilidades de se encontrar ouro na região. Um grupo de bandeirantes liderados por Miguel Sutil fundou o Arraial de Santa Cruz do Sutil, em Palmeira, que chegou a ter uma capela, sinal de que havia uma população considerável reunida no local, em 1699. Esses bandeirantes logo estariam em novos garimpos no Mato Grosso, onde são mencionados na fundação de Cuiabá.

     Entre 1707 e 1709 passou pelos Campos Gerais uma expedição de jesuítas, em pesquisa dos recursos disponíveis para exploração econômica, visando obtenção de fundos para a conclusão do Colégio de Paranaguá. Os padres estabeleceram-se às margens do riacho existente entre o morro da Pedra Grande e a localidade do Cerrado Grande, no atual Distrito de Itaiacoca, Ponta Grossa, onde concentraram as atividades de garimpagem de ouro. Sobre as atividades dos padres restaram muitas lendas sobre tesouros escondidos.

     A descoberta de diamantes nas imediações da serra da Pedra Branca, em Tibagi, por Angelo Pedroso Leme e Frei Bento de Santo Angelo, que exploravam a região desde 1748, deu início a uma grande disputa pelo direito de exploração.  Um dos mais antigos documentos cartográficos da região dos Campos Gerais data de 1755 e intitula-se Mappa do Certam do Tibagi riquissimo de averes assim de oiro estanho fino e antimônio excellente como de fertiz campos pa se criar animaes (...). Foi mandado fazer por Angelo Pedroso Leme, com o intuito de demonstrar às autoridades a ocupação feita e a pesquisa dos minérios existentes na região, e assim obter privilégios relacionados à exploração dos recursos naturais, fazendo valer seus direitos de descobridor. Indica os principais rios, caminhos e serras, e localiza a sua “rossa” perto do Morro da Pedra Branca, também chamado atualmente de Morro do Jacaré, em Tibagi.

     Um pelotão mandado pela Câmara de Curitiba para vigiar Pedra Branca manteve-se por longos anos no Registro de Nossa Senhora do Carmo, sobre a foz do Capivari, controlando as atividades mineradoras. Sendo as lavras diamantinas monopólio da Coroa Portuguesa, sua exploração devia seguir normas rígidas. Não eram incomuns as tentativas de burlar a fiscalização, tanto por sertanistas como por sesmeiros, que colocavam seus escravos no faiscamento, tendo havido alguns casos de prisão. As buscas por ouro e diamantes aconteceram sempre de forma esporádica e por processos rudimentares, em que a bateia (espécie de prato de madeira ou cobre onde se revolve o cascalho, em água corrente) era o principal instrumento de trabalho. Durante o século XIX, muitas pesquisas e prospecções foram feitas, como a de Martim Francisco Ribeiro de Andrada, que em 1802 esteve na região e examinou os córregos Monjolo, Faisqueira, Fortaleza, São Domingos, Santa Rosa, Borges e ambas as margens do Tibagi, elaborando então um relatório detalhado, onde descreve os diamantes que foram encontrados.

     No início do século XX, Tibagi passou a receber um grande fluxo de garimpeiros do Nordeste do Brasil, que se estabeleceram na região e trouxeram novos métodos de mineração, como o mergulho para extração do diamante usando escafandros. Esses e outros recursos utilizados na época podem ser vistos no Museu Histórico Edmundo Mercer, também conhecido como Museu do Garimpo de Tibagi.

     Atualmente as concessões para exploração são dadas pelo Departamento Nacional de Produção Mineral. Mas a forma rudimentar continua ocorrendo, condicionada às épocas de estiagem, quando se torna mais fácil a busca nos cascalhos e nos “panelões” existentes nos rios.

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