Na tela rútila das pálpebras

A árvore da serra

Vila Velha, Guartelá

Nada é imagem, nada é miragem

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A equipe de Na tela rútila das pálpebras

A equipe na Escarpa Devoniana

Marginália da Escarpa

Viagem aos campos de Santa Catarina

Cavando Seamus Heaney Repousa entre meus dedos uma pequena pena; firme como uma arma. Sob a janela, um som áspero e claro quando a pá se aprofunda entre terra e cascalho. Vejo o pai, cavoucando. E lá embaixo seu dorso retesado entre os regos de flores ainda se dobra, e rebrota de remotos vinte anos, debruçando-se ritmado entre as leiras de batata que ele estava lavrando. As botas toscas se amolgando no bordo, o cabo firmemente apoiado contra o joelho. Ele arrancou tubérculos maduros, enterrou fundo o gume reluzente para semear novas batatas que colhíamos apreciando o frio rigor do fruto entre as mãos. Como o velho sabia usar aquela pá! Tal e qual o seu velho. Meu avô corta mais turfas num dia que qualquer outro homem no brejo de Toner. Uma vez levei leite pra ele numa garrafa com uma rolha frouxa de papel no gargalo. Ele se aprumava pra tomá-lo e já se vergava novamente talhando e retalhando com apuro, atirando torrões por sobre os ombros, e descendo e indo fundo em busca de boa turfa. Cavando. O frio olor do húmus das batatas, o estalo e o chafurdar das turfas encharcadas, os repentinos cortes de um gume entre as raízes vivas que me afloram à memória. Não tenho pá para seguir os passos de homens como esses. Repousa entre meus dedos uma pequena pena. E com ela eu vou fundo. Tradução de Josely Vianna e Francisco Faria

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